
✨ “La Vie en Rose”
“La Vie en Rose”…
Era assim que via a vida antes de me tornar adulta. Sonhava e acreditava que tudo era possível. O céu era o meu limite.
Cheguei a pensar, ainda em solteira, em emigrar. Mas “ouvi” os mais velhos e deixei-me ficar num ambiente seguro, em vez de dar o salto para o desconhecido.
Ouvia muitas vezes: “tens de ter os pés bem assentes na terra” ou “nada na vida é fácil”.
Era normal — os meus pais não tiveram uma vida propriamente fácil. Foram emigrantes que fizeram de tudo para dar o melhor aos filhos. E conseguiram.
Sei o que é estar longe da família, despedirmo-nos dos avós e não saber se no ano seguinte ainda os poderemos abraçar.
Aos meus pais só posso agradecer: dar-lhes todo o amor e a minha mais profunda admiração.
E aqui estou eu, passados alguns anos, com a minha luz mais “fraca” — consequência das circunstâncias da vida.
Fiz escolhas e aceitei o que me era permitido ser e fazer… em prol da família.
Mas, desta vez, da minha própria família.
Deixei de ser eu. Aquela menina vaidosa, que se ria sem medo dos olhares dos outros, que falava o que lhe ia no coração — sempre com respeito —
mas que ouvia: “não fica bem seres assim” ou “não digas isso”.
Apaguei os meus sonhos e objetivos.
Deixei de saber quem sou.
Percebi isso há dias, quando tive o enorme prazer de conversar com pessoas especiais, sábias, que já viram muito do mundo… e me leram nas entrelinhas.
No meio dessa conversa, perguntaram-me:
“O que é que gostas mesmo de fazer?”
…E eu não soube responder.
Fizeram-me pensar. E hoje sei:
Quero voltar a agir. Agarrar a minha vida com as minhas mãos.
Viver os meus sonhos — e não apenas os sonhos dos outros.
Porque, há anos, tenho vivido em função dos objetivos de outros familiares.
Tenho-me limitado aos papéis de filha, mãe, esposa, nora, dona de casa…
E o papel de Elizabete — Betty — deixei de saber qual é.
Deixei de saber como se representa.
E esse, devia ser o papel principal.
Já tive várias tentativas de realizar alguns “possíveis sonhos”…
Mas eram sempre adiados — para um “dia mais oportuno”… para todos.
Nunca por mim. Nunca para a minha realização pessoal.
Este é o momento.
Quero voltar a ser eu.
Quero poder chegar-me às pessoas, sem medos nem filtros. Falar com elas. Ouvi-las.
Quero fazer o que me traz alegria e me faz sentir viva por dentro.
Vou reencontrar-me.
Este é o meu único objetivo agora.
✨ E aprendi algo valioso:
Uma conversa com as pessoas certas pode mudar tudo.
Pode acender luzes dentro de nós que julgávamos apagadas.
Por isso, não te feches em copas.
Não tenhas medo de seres a tua própria voz.
Sê fiel ao que te faz vibrar por dentro — porque é aí que habita a tua verdade.
Betty Andrade Soares